Número de investidores bate recorde na Bolsa e encosta em um milhão
O número de investidores na Bolsa encostou em um milhão com a alta de cerca de 50% em um ano. Com mais interesse pelas ações, pessoas físicas somaram 982.721 aptas a investir no fim de março, maior número já registrado.
Apesar do recorde, esse contingente representa apenas 0,48% da população brasileira, muito abaixo da média de países emergentes: 6%. Independentemente de olhar o copo meio cheio
ou meio vazio, a expectativa é de continuidade do crescimento desse contingente a cada ano.
Juros em patamares baixos, inflação praticamente sob controle e pulverização das plataformas de investimentos estão levando mais gente para o mundo da renda variável.
Amadurecimento
Estudo da Levante Investimentos aponta que 2,2% dos brasileiros terão algum investimento em ação em 2025. Com base nas projeções de população do IBGE, serão 4,8 milhões de pessoas.
— A próxima geração já terá maior educação financeira, diferentemente do passado, em que a única opção conhecida era apoupança — diz Felipe Bevilacqua, gestor da Levante.
Raphael Figueredo, analista da Financial Eleven, diz que décadas de inflação ou juros elevados deixaram no investidor uma mentalidade de curto prazo, priorizando a renda fixa por ser mais
segura e estável. Agora, com a taxa básica de juros (Selic) em 6,5%, menor patamar histórico, a procura por investimentos de maior risco começa a aumentar. — O brasileiro está aprendendo a investir agora, assumindo que uma parcela do dinheiro precisa ir para algo com mais risco, com rendimento maior — analisa Figueiredo.
De fato, enquanto as pessoas físicas têm R$ 229,8 bilhões em ações, o saldo investido na tradicional caderneta poupança ainda é bem maior: R$ 798,5 bilhões. Analistas acreditam que, com o
amadurecimento dos investidores, parte desses recursos migrará para a Bolsa — assim como o investido em renda fixa, que agora tem baixo retorno.
Quando se olha para o perfil dos investidores no Brasil, a maioria é formada por homens entre 26 e 45 anos. Essa faixa etária é a que mais cresce. No entanto, a maior parte das ações está nas mãos de quem tem mais de 56 anos. A justificativa é que eles já têm maior volume de patrimônio financeiro acumulado. Não está nas estatísticas quem investe por fundo de investimento.
Além dos fatores macroeconômicos, Rafael Panonko, chefe da área de análise da Toro Investimentos, chama atenção para a ampliação do acesso à Bolsa proporcionado pelas plataformas
digitais, as chamadas fintechs. A burocracia também ficou menor, tornando mais simples a abertura de conta em uma corretora de valores, ressalta: — Há um acesso maior à informação. Antes, o brasileiro pensava em investimento e falava com o gerente de banco. Hoje, começa a ter uma outra visão.
Efeito Petrobras
Panonko admite, no entanto, que turbulências como a que atingiu o mercado na última sexta-feira, quando as ações da Petrobras caíram mais de 8% por causa da suspensão do reajuste do diesel por determinação do presidente Jair Bolsonaro, inspiram cautela em potenciais novos investidores. Mas destaca que é preciso ter uma visão de longo prazo.
— O efeito pânico assusta as pessoas, mas o investidor precisa pensar no longo prazo. Essa medida vai afetar o que espero de ganho para a empresa? Então, pode ser uma oportunidade de compra para o longo prazo — diz Pananko, reforçando a atenção aos riscos.
Para Luiz Roberto Monteiro, operador da Renascença Corretora, é cedo para saber se a pressão sobre os papéis da Petrobras vai continuar: — A empresa vinha em um processo de venda de ativos. Está emum processo de recuperação dos números. Essa notícia não veio em um bom momento. Não dá para a